10/03/2012

tinta de romã

se hoje o meu sangue é quente, tu sabes...
lábios carnudos e pétalas violetas,
tons graves e uma sirene de nevoeiro,
lençóis de seda e mel anizado.
se hoje me meneio no teu rosto, tu sabes...
os dias ausentes de nós,
grávidos dos beijos silentes,
na capa do livro sem título.
folheia-me ao sabor do outono
e escreve em mim o nós,
ou o tu e eu,
como queiras...
inscreve-nos no âmago de qualquer coisa
com a tinta colhida
na lágrima de um bago de romã.

sonho

dança de lobos.
crepitam as mãos.
fecham-se para o sono
nas horas incertas.
ouve o molhado
das superfícies.
boca voraz.
engolidos.
as luzes de néon
e o silêncio da noite.
onde está
o teu sorriso?

memória enrugada

dedos que fiam e tecem.
aranhas sem seda.
engelhados...
cascas de clementina
e um perfume adocicado.
um copo vazio enviesado
no tampo de madeira tosca.
rodas de bicicleta,
violetas com pontos amarelos.
um quadro,
uma natureza morta.
e a memória enrugada
dos teus dedos
no piano.