09/04/2010

mulher-fogo

intrépidos desejos os que querem rasgar o teu peito no zero absoluto. pedra. fóssil. ausente de ti. como se o tu fosse pronome que importasse na ausência do nós. trepadeira negra e hedionda que chicoteia qualquer cão selvagem que tente abocanhar a tua seiva amordaçada. por trás dos foscos vidros embaciados pela fuligem expelida no parto acrimonioso, há uma pequena chama. é um quase nada, minúscula, praticamente invisível, mas está lá! consome o frugal oxigénio que sobrou do delírio ardiloso. mas arde, vive, não esmorece. apenas se resguarda no pousio. e na pastagem liberta das geadas, a mulher-fogo circundará os sóis semeados no sangue primeiro da boca do tempo... segredando: «ontem, não era. o começo é agora!»

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