19/06/2010

tua

se o tempo não se esquecer, há-de levar-me o corpo queimado de vida, marcado por cicatrizes de instantes felizes, segundos sem igual, emoções rubras e azuis. papoila desmanchada entre os dedos ávidos de terra e pó. sou mera estrada, pedra da calçada.
se o tempo não se esquecer, há-de arrancar-me o sopro da vida com o beijo da morte. e será o beijo mais doce de sempre, mais terno e apetecido.
«esperei tanto por ti! pensava que nunca mais chegavas.»
sei-te do lado de lá. não me perguntes como, mas sei. não foi a estrela, nem a palma da mão. não! és tu que estás impregnado em mim, como um perfume que não sai. cheiro-te em mim, sabes-me na minha língua, na saliva que liberto só de te escrever.
anjo negro que velas por mim. sabes-me tua. dá-me o beijo da morte. ou atravessa a porta, porque estou aqui, à espera, ausente, presente em ti.
se o tempo não se esquecer, vai comer-me a pele e os ossos, beber o meu sangue e segurar o começo e o fim no mesmo instante. e o brilho será intenso. cegará os homens e os deuses. cegará a boca do espaço e serei, enfim, tua...

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