uiva o vento que ainda não nasceu, em golfadas sucessivas, no emaranhado ardente que serpenteia ardiloso no centro da Terra. o crepitar das gordas larvas negras sobre o meu corpo desperta-me do torpor em que o cheiro nauseabundo encaixotado me conserva.
«vou ter saudades tuas pai. não chores!»
as hediondas harpas dançam ritmadas em torno do corpo que tresanda a morte e arrastam os véus transparentes sobre as gretas que se abrem nos lábios, nas sobrancelhas, nas maçãs do rosto. fazem o chamamento. rasga-se a parede de ar e, do lado de lá, vejo chamas azuis carcomidas por escaravelhos vermelhos, moinhos de vento com as velas rasgadas, em ruínas, a flutuar num campo de medos e traições.
«tenho medo, pai! cuida da mãe e das manas. enxagua as lágrimas, meu paizinho. dá-me as mãos, por favor. tenho medo!»
do fedor negro que invade o interior do esquife liberta-se uma réstia de ar fresco, um último sopro de amor. apaga-se a chama da vida. fica fria, a chama, brilha azul e branca. e depois, tudo escurece, tudo se esquece de mim. não mais existo. não para vós!
«deixei de te ver, paizinho. onde estás?»
nesse instante, tudo desapareceu: as larvas, as harpas, as chamas (azuis, não eram?), os escaravelhos, os moinhos...
«e tu também, pai! vou ter tantas, mas tantas saudades, meu querido pai!»
«vou ter saudades tuas pai. não chores!»
as hediondas harpas dançam ritmadas em torno do corpo que tresanda a morte e arrastam os véus transparentes sobre as gretas que se abrem nos lábios, nas sobrancelhas, nas maçãs do rosto. fazem o chamamento. rasga-se a parede de ar e, do lado de lá, vejo chamas azuis carcomidas por escaravelhos vermelhos, moinhos de vento com as velas rasgadas, em ruínas, a flutuar num campo de medos e traições.
«tenho medo, pai! cuida da mãe e das manas. enxagua as lágrimas, meu paizinho. dá-me as mãos, por favor. tenho medo!»
do fedor negro que invade o interior do esquife liberta-se uma réstia de ar fresco, um último sopro de amor. apaga-se a chama da vida. fica fria, a chama, brilha azul e branca. e depois, tudo escurece, tudo se esquece de mim. não mais existo. não para vós!
«deixei de te ver, paizinho. onde estás?»
nesse instante, tudo desapareceu: as larvas, as harpas, as chamas (azuis, não eram?), os escaravelhos, os moinhos...
«e tu também, pai! vou ter tantas, mas tantas saudades, meu querido pai!»
2 comentários:
Texto muito sentido, amiga!
Amiga, aliás,
que há tanto tempo não via por aqui.
Bem haja!
Obrigada. Até breve!
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