28/02/2010

dedilhar as cordas da memória

dedilhar o pescoço como quem dedilha as cordas de uma guitarra. executante de vibrações no meio dos longos caracóis perdidos sob os raios de sol. os reflexos avermelhados escorrem como flores prenhes sobre a pedra calcária. o calor no frio. o azul no vermelho. fusão dos contrários. plenitude sagrada de almas famintas. silêncios tocados nos olhos pelo fervilhar de ternuras insensatas. nos lábios entreabertos, as tréguas dos desejos outrora beligerantes.
dedilhar a memória como quem dedilha um pescoço. executante de sorrisos nos lábios esquecidos lá ao longe. brilho cristalino de mãos em chama nos ombros que moldam as montanhas à minha frente. a imensidão impõe-se. o sol brilha demais! ofusca tudo. cega-me. perde-me. conquista-me.
«que queres de mim?»
mas o horizonte não traz qualquer resposta. o eco luta para não voltar e agarra-se com unhas e dentes às asas da águia que acaba de passar. e o passado regressa ao seu lugar. e o presente retrocede até aos meus braços cruzados e fechados sob o meu peito. invade-me as narinas e acorda-me.
quando abro os olhos, tenho em mim esta cantilena:
«dedilhar o pescoço como quem dedilha as cordas de uma guitarra.»
suspiro... e sorrio!

2 comentários:

Luís D. P. Rodrigues disse...

...e que bonito o suspiro do teu sorriso!

Joana Roque Lino disse...

obrigada. ;)